sábado, 17 de novembro de 2012

                                          Dez


Tempestades




 

            Após a primeira luta havia um intervalo de vinte minutos para que as pessoas comprassem lembranças, tirassem fotografias com os duelistas, comidas bruxas da China. Enquanto caminhavam pelo hall os garotos comentavam fervorosamente a batalha recém encerrada.
            A segunda rodada de duelos era entre um novato e um amador. Mas os garotos ainda não sabiam quem seria o amador que subiria à arena. Quando as pessoas começaram a se encaminhar para seus lugares a arena já havia voltado ao normal e o homem que irradiava a partida estava aguardando sorridente com os braços seguros às costas.
            - Todos acomodados? – Perguntou o homem com a voz magicamente ampliada. – Pois já iremos começar a segunda rodada de duelos da noite.
            Enquanto o apresentador dava informações sobre o duelo, dois homens caminhavam conferindo bilhetes. Estavam, visivelmente, atrasados para o evento. Conferiram duas vezes antes de avisar que Avalon e Leon estavam em seus lugares. Os dois levantaram-se para conversar. Certamente usariam a lábia para confundir os dois.
            - Vamos à bilheteria, resolveremos isto lá fora. – Sugeriu Avalon indicando com a mão o caminho.
            Os homens saíram na frente.
            - Já voltamos. – Leon avisou dando uma piscada marota para Leonard. Na pressa de sair ele nem notou que o amigo estava segurando o riso.
            - Temos voluntários! – Gritou a voz que estivera passando informações sobre o duelo. – Aqueles dois rapazes em pé.
            E a luz forte de uma varinha incidiu sobre Avalon e Leon. Ambos se olharam assustados. Não haviam se inscrito em nada. Viraram ao mesmo tempo para Leonard, que ria, agora sem disfarçar.
            - É assim que os amadores são escolhidos aqui. Os voluntários se levantam quando o bigodinho pergunta quem deseja duelar. Vocês se distraíram na confusão dos lugares e nem ouviram.
            Avalon sentiu o corpo esfriar, ele iria apagar a qualquer momento. Quando olhou para Leon o amigo estava assustado, pálido. Mas ao menos ele sabia que seria o padrinho. Leon, se Avalon tivesse sorte, não precisaria nem sacar a varinha.
            Os dois desceram até a entrada da arena. Avalon sentia que suas pernas iriam o trair a qualquer momento, que elas vacilariam e se recusariam a mantê-lo em pé. Entraram na arena. Era estranhamente fria e silenciosa, não podiam ouvir o que acontecia do lado de fora. Foram então, com passos vacilantes, até o homem que os chamara.
             - Certo, garotos. Vocês falam mandarim? – Ele perguntou com a voz normal, o feitiço havia sido desfeito. Os rapazes balançaram a cabeça. – Ótimo, de onde vocês são? Quais os nomes? Quem luta e quem é o padrinho?
            - Senhoras e senhores. Os amadores da noite são: diretamente da Inglaterra o padrinho Gabe Leon e o Duelista Avalon Hastur, o Tritão.
            Os garotos puderam ver o público gritas e aplaudir sem som algum.
            - E o novato no circuito chinês, dêem as boas vindas à Li Kong!
            Kong entrou na arena trajando vestes azuis, muito parecidas com as dos duelistas do duelo anterior, era jovem, porém visivelmente mais velho que Avalon.
            Os dois se cumprimentaram e tomaram distância, os padrinhos tomaram posição nos círculos negros. O primeiro duelo importante da vida de Avalon estava para começar e ele nem havia se preparado com um arsenal de feitiços.
            Avalon tomou a iniciativa, foi quem moveu a varinha primeiro. Nada aconteceu, Kong ficou olhando em volta aguardando alguma coisa sobrenatural, mas a princípio parecia que o jovem bruxo inglês não havia feito nada. Porém, um zumbido encheu a câmara, o ruído foi aumentando enquanto as pessoas lá fora gritavam. Avalon continuava não ouvindo nada, mas o som do público iria incomodar Kong até que fosse desfeito.
            Kong avançou para cima de Avalon, no meio do caminho ele saltou, certamente com auxílio de magia e lá do alto uma bola de fogo veio como um míssil para a arena.
            Avalon girou o corpo com a mão da varinha esticada e no fim do giro apontou para a bola que descia. A bola converteu-se em uma chuva de pétalas e Kong voltou ao chão mas desconcentrava-se com o som, perdeu o equilíbrio por este motivo.
            - Rictusempra! – Avalon gritou, fez questão de usar um feitiço verbal. O soco atingiu a barriga de Kong enquanto ele tentava se equilibrar e o arremessou para fora da arena.
            Acabou. Avalon ganhara o duelo, Leon veio correndo em sua direção e deu-lhe um abraço. O juiz ergueu o braço da dupla campeã. O que o Tritão fez para ganhar? Ele só contou mais tarde para seus amigos:
            - Ele era novato, precisava se provar para o público. Na arena, com a adrenalina correndo na veia é difícil distinguir urros, palmas e vaias. Eu senti a mesma coisa quando fui escolhido. O público finalizou com o rapaz, eu não fiz, praticamente, nada.
            A noite pareceu passar lentamente, enquanto Avalon imaginava a possibilidade de se tornar um profissional em duelos, o sono demorou muito para chegar, mas a tempestade de pensamentos nublou os olhos de Avalon e ele dormiu pesadamente pouco antes do dia clarear.

domingo, 30 de setembro de 2012

                                          Nove


Mar Marfim




Como Fortescue era o homem da inteligência do sr. Hastur, somente ele sabia o roteiro de Avalon. Agora, portanto, ninguém conhecia o destino ou paradeiro do trio. Estavam livres para conhecer o restante do mundo.
            Quando foram para o Egito, Gabe ajudou um grupo de bruxos a desfazer um feitiço que os impedia de lembrar o caminho que haviam feito dentro das pirâmides, eles simplesmente esqueciam tudo assim que saíam do local. Avalon apenas acompanhou superficialmente a complicada combinação de feitiços de defesa contra as arte das trevas que gabe usara com incrível concentração.
            - Estive pensando. – Disse Avalon enquanto eles sobrevoavam as savanas africanas. – Você poderia me ensinar alguns destes feitiços que o professor Prost ensinou, que tal?
            - Sim, e seu pai poderia te deixar ser auror na Espanha sem ter prestado NIEMS para isso. – Respondeu Gabe com sua voz grave, enchendo-se de animação. – Você tem notas para fazer o que quiser da vida, Tritão.

            Avalon não pensara muito no que Gabe Leon dissera durante semanas, e quando chegaram à China, dois meses depois, eles nem falavam sobre isso.
            O oriente era uma espécie de arena de duelos gigante. Eles eram anunciados nos lugares freqüentados exclusivamente por bruxos. Os garotos começaram a acompanhar os duelos pelo rádio. Nard e Gabe estavam ansiosos para ir a algum duelo e ficavam jogando indiretas para Avalon, que recusara a primeira vez.
            Quando o terceiro duelo foi anunciado, Avalon concordou que os três precisavam ir assistir ao vivo, ele queria muito ir, mas alguma coisa o estava bloqueando antes. Assim foi feito, quando a noite se aproximou Avalon saiu do quarto, trajava vestes bruxas, em tons de cinza e azul. O contraste com seus olhos era coincidência, mas ele refletia, agora para além dos olhos, o rompante de que uma tempestade estava se aproximando, que devastaria tudo assim que ele decidisse que era a hora certa.
            Os amigos estavam igualmente bem vestidos. Leon vestido em uma capa lilás havia comprado um cajado para guardar sua varinha, não era grande, mas passava uma impressão de superioridade, ou de idade mais avançada. Keedle usava vestes em risca de giz e uma cartola preta.
            - Avalon, onde está a luva?
            - Na mala.
            - Então vá buscá-la
            - Nard, não. Não faz sentido.
            - Como não? O circuito corre o mundo, um bruxo inglês pode muito bem participar. Você ainda não decidiu o que queria fazer da vida e os duelos são sua especialidade.
            - Sim. Imagine meu pai sabendo que estou para morrer na china?
            - Você não vai morrer. – Dessa vez que falou foi Gabe. – e não estou dizendo para você lutar, você só precisa levar a luva para o caso de decidir participar de um dos duelos secundários.  
            Avalon resistiu um pouco, mas por fim pegou a sua luva azul.
            Vários galeões a mais para a bruxa cheia de espinhas que ficava na bilheteria, alguns feitiços para confundir dois guardas distraídos e os garotos conseguiram se sentar na primeira fila diante da arena.
            Era uma gigantesca plataforma retangular construída em marfim. Havia em toda a sua superfície estrelas e meias-luas que serviam para marcação. Nas duas extremidades havia um círculo feito de um material negro.
            - Senhoras e senhores. – Anunciou uma voz magicamente ampliada, ele falava rápido e os garotos só conseguiam entender graças a um tradutor simultâneo intra-auricular que haviam comprado no Egito. Era um homem baixinho com o queixo fino e um bigode ralo – Bem vindos à Pré Temporada de Duelos. O primeiro duelo principal será entre o terceiro colocado do campeonato passado, o incrível Chang!
            A platéia interrompeu o apresentador, urrando, e Avalon sentiu a adrenalina subir, gritou junto aos outros. Chang subiu até o centro da plataforma, trajava um robe oriental vermelho, fechado com lacres dourados.
            - E temos, também, um novato. – Todos fizeram silêncio. – Dêem as boas vindas à Yu Yuk.
            Por um instante Avalon acreditou que havia sido inscrito pelos seus amigos, se fosse o caso, além de não lutar ele iria aprontar com os dois. Mas esqueceu logo isso, gritando as boas vindas para Yuk. Yuk subiu na plataforma trajando um robe igual ao de Chang, porém, bege. Era a única diferença entre eles.
            Os padrinhos foram anunciados e tomaram posição nos círculos negros. Os dois duelistas se cumprimentaram e tomaram posição. O juiz autorizou o início do duelo.
            A platéia prendeu a respiração. Foi Yuk quem atacou primeiro. Em uma espécie de dança ele pareceu fazer o mesmo movimento da varinha e o chão começou a mudar. Colunas de pedra subiram em direção a Chang. Chang parou as colunas sem dificuldade e em um golpe violento deu uma estocada com a varinha, puxando a varinha por um lado e a mão livre por outro lado do rosto cuspiu uma serpente em chamas que seguiu rapidamente na direção de Yuk. Sendo atacado Yuk reagiu rapidamente fazendo a serpente mudar o caminho e se voltar contra seu criador, Chang lançou a serpente na direção da platéia e, finalmente, Avalon percebeu que havia feitiços protegendo o público.
            Os duelistas mesclavam artes marciais com feitiços. O tempo inteiro podia-se ouvir estrondos, estalos e estampidos de feitiços sendo disparados violentamente, eles estavam suados pelo esforço que faziam nas tentativas de derrubar o oponente.
            Chang fez um movimento para o alto com sai varinha, era impossível prever o que ele faria, os duelistas eram muito bons com feitiços não verbais. Yuk seguiu sua mão com o olhar apreensivo e essa distração foi sua maior falha no duelo. O feitiço não veio de cima. A arena ao redor dele virou um mar branco que prendeu as pernas de Yuk antes que ele pudesse reagir, o marfim, controlado por Chang, arrastou Yuk violentamente para fora da arena.
            - Sim! – Disse o apresentador – Chang é o vencedor da luta principal.
            A platéia irrompeu em vivas, havia música em algum lugar, chapéus e cartolas voando, a luta havia terminado e os três amigos não se continham em meio à adrenalina que emanava da arena.

sábado, 1 de setembro de 2012

                                          Oito



Califórnia




Os bruxos na Califórnia eram menos tradicionais, o que obrigara Avalon e Leonard a trocarem quase todas as roupas que haviam trazido. Gabe Leon adaptara-se facilmente ao estilo de vida dos nativos da América. Pretendia fazer algum tipo de intercambio no ministério local durante seu treinamento para auror.
- Vocês vão ficar em casa, mesmo? – Avalon perguntou impaciente enquanto vestia uma camisa de uma banda trouxa que aprendera a gostar durante as semanas que passara na América.
- Sem chance, Tritão. – Respondeu Leonard, que estava ocupado escrevendo uma carta para casa. – Estou exausto. Nunca imaginei que uísque de fogo pudesse ser tão traumático.
- Eu também passo. Vá você. – Gritou Gabe, da cozinha.
- Vocês não agüentam nada. Vou mesmo.
E foi. O garoto estava gostando da liberdade de poder ir para onde quisesse. Aproveitaria ao máximo. Esta noite parou em um pub próximo a praia em Santa Bárbara. O lugar era freqüentado por trouxas e bruxos. Atraídos pelo Punk Rock. A música era um tipo de magia que não dependia do talento com a varinha e Avalon apreciava esta habilidade, independente se fosse vinda de um bruxo ou não.
Avalon provou diversas bebidas servidas no local. Dizia a si mesmo que estava viajando para experimentar as coisas da vida. Assim fingia que estava tudo certo. Não se aproximara de nenhuma garota esta noite. Não estava afim. Mas bebeu demais. Já era madrugada alta quando ele saiu do local.
A rua estava deserta quando ele colocou os pés para fora. Ainda estava anestesiado pelo álcool correndo em seu corpo. Não estava com frio, os lábios estavam dormentes e a visão um pouco turva. Tentou vestir a jaqueta, primeiro um braço, com dificuldade, passou pela manga. O braço seguinte resistia bravamente aos esforços do rapaz.
Ao longe um outro rapaz se aproximava, não era possível identifica-lo. Apenas uma camiseta branca. Avalon não deu atenção ao homem que se aproximava. Ele parecia emanar certa aura, como se uma luz tremeluzente o rodeasse.
Quando o homem se aproximou, Avalon cambaleou um pouco e tentou disfarçar sua briga com a jaqueta. O homem notou e foi segurar a manga para Avalon colocar o braço. O rapaz tinha feições orientais, exceto pelo queixo rígido.
- Ah, obrigado.
- Não por isso. – O homem divertia-se com o estado de Avalon. – Os bares por aqui te enfiam bebidas enquanto você puder pagar por elas. Mesmo que depois você não consiga vestir uma jaqueta.
- Verdade, mas vou ficar bem. Obrigado.
- Precisa de ajuda para chegar em casa?
- Não, deixe que eu me viro daqui. Até.
- Certo, tome cuidado. Adeus.
O homem foi-se embora e Avalon tentou encontrar o caminho de casa. A medida que caminhava sua face começava a se sensibilizar com o frio, era um pouco de sobriedade chegando. Chegou junto à sensação de que estava sendo seguido. Olhava para trás em intervalos regulares. Não via ninguém. Não ouvia passos.
- Homenum Revelio! – Disse sacando a varinha em um movimento muito rápido. Mesmo pra um bêbado.
Imediatamente um homem apareceu na sombra e por uma fração de segundo se assustou com a descoberta de Avalon. Ele desaparataria em seguida, mas Avalon foi mais rápido que seu reflexo.
- Não vai, não. – e com um movimento breve da varinha imobilizou o estranho.
Avalon aproximou-se lentamente do homem tentando reconhece-lo. – Quem é você?
- Fortescue. – O homem disse ofegante. - Sou agente do seu pai.
- Meu pai? Ele ainda manda vocês me seguirem? – Avalon sentiu-se como uma criança.
- Sim, senhor. – Respondeu o agente sem tentar se livrar do feitiço que o prendia - Ele disse que as ordens não mudaram só por você ter atingido a maioridade.
- Vamos resolver isso agora mesmo. – Avalon disse segurando o braço do homem. – Você vem comigo.
Um estalo acompanhou uma breve distorção do ar e os dois desaparataram.
O hotel não ouviria o estalo, os rapazes haviam providenciado para este tipo de eventualidade. Os dois aparataram na sala. Rapidamente os amigos de Tritão chegaram no ambiente. Avalon explicou rapidamente o que ocorrera.
- E agora, vamos ter uma conversa com meu amado pai.
Avalon jogou o pó de flú na lareira improvisada e meteu a cabeça nas chamas verdes. Do outro lado seu pai encontrava-se pensativo em sua mesa no Ministério da Magia Espanhol. Os amigos não puderam ouvir a discussão que durou muito tempo.
Quando finalmente saiu da lareira, Avalon tentava transmitir uma calmaria que não existia.
- Fortescue, você vai voltar para a Espanha, imediatamente. E não quero ninguém me seguindo mais. – Avalon disse para o bruxo que estava imobilizado no sofá. Avalon sacou a varinha e alterou a memória do guarda. – Ele não vai mais se lembrar do nosso roteiro e poderemos seguir viagem pela manhã.
Assim foi feito. Na manhã seguinte todas as malas estavam prontas e os garotos partiram. Iriam para o México, que era o país mais próximo, onde estudariam as famosas caveiras. Avalon estava frustrado, não conseguia entender como o pai poderia insistir em mandar-lhe guardas, mesmo quando sabia que o garoto não precisava mais. Aliás, enquanto atravessavam a fronteira, voando, o rapaz se questionou se algum dia realmente precisara de capangas.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

                                          Sete

Preparativos


           


Hogwarts fez Avalon amadurecer muito nos últimos anos em que esteve lá. Ele crescera muito desde o dia em que sentara no banquinho com três pernas, diante de toda a escola, e fora selecionado para a Corvinal. Sua mãe havia sido uma Corvina e seu pai foi o Capitão do time de Quadribol da Grifinória. O rapaz cresceu bastante, os cabelos loiros nunca ficaram penteados, os olhos, de um tom cinza que precede tempestades, sempre demonstraram uma maturidade que ainda não chegara ao resto do corpo.
            A casa em Blackpool estava no mesmo silêncio dos últimos anos, exceto pelo ruído de coisas sendo arrastadas no segundo andar. Avalon recebera uma carta de Keedle que também se formara naquele ano, fariam uma viagem para a Califórnia, onde se encontrariam com Leon, que havia se formado um ano antes, e fariam um ano de viagem entre amigos, conheceriam bruxos, e bruxas, de outras culturas, aprenderiam novos feitiços e voltariam para a Inglaterra onde cada um seguiria seu caminho na vida adulta.
            Avalon sentia-se diminuído pelos amigos, todos já sabiam o que fariam no fim de um ano. E ele, que obtivera as maiores notas, não tinha a menor idéia do que fazer. Leon seguiria como auror, algo comum para um rapaz da Grifinória. Keedle era de uma família em que quase todos os homens havia jogado Quadribol, ele, portanto, seguiria essa linha de profissão.
            Decidira sair bem agasalhado, usando as vestes oficiais do Vespas de Wimbourne. Compactou tudo com alguns feitiços e guardou a mala no bolso interno das vestes. Ele cantava uma música dos Duendeiros que tocava na rádio bruxa quando dispensou Hook, a coruja que o acompanhara durante a escola, ela não poderia ir com ele em suas viagens, então Avalon decidira empresta-la a Hogwarts.
            Malas guardadas, varinha no bolso. Assim o rapaz entrou na lareira, seu pai não estava em casa, como sempre. Em um giro nauseante uma língua verde de fogo morno o envolveu e ele se viu atravessando lareiras em direção à casa dos Keedle de onde partiriam mais tarde.
            - Tritão! – Leonard Keedle disse anunciando a chegada do amigo – Achei que não viesse mais.
            - Nard, eu estou no mínimo – Disse verificando o relógio de ouro que ganhara ao completar dezessete anos. – Meia hora adiantado. Não exagere. – E saindo da lareira deu um abraço no amigo que não via desde que voltaram de Hogwarts.
            A família Keedle vivia muito bem em Birmingham, onde não tinham vizinhos bruxos. A sra. Keedle era uma trouxa de cabelos castanhos que começaam a ficar grisalhos, vestia-se tão bem quanto um trouxa seria capaz e eles viviam na casa que fora da família dela.. O sr. Keedle era um bruxo do Ministério, usava sempre um terno de risca de giz e os cabelos começando a rarear na cabeça.
            - Então o Tritão vai mesmo tirar meu filho de mim? – Disse o sr. Keedle quando veio se juntar aos rapazes perto da lareira. O Homem cumprimentou Avalon cordialmente e foi pousar a mão cheia de anéis no ombro de Leonard.
            - Ele estará em boas mãos. – Avalon respondeu seriamente. – Leon é um homem responsável. – Completou e começou a rir. Era daqueles amigos que viram amigo da família inteira.
            - Leon? Aquele garoto não deve conseguir cuidar de um tronquilho. Não sei como vai virar auror. O treino demora demais, ele não teria tanta paciência. – Disse rindo, conhecia bem os amigos de seu filho, era como um tio muito legal que a gente não vê muito. – E você, decidiu-se? Seria bom ver você e meu garoto fazendo dupla em algum time de quadribol. Chudley, talvez?
            - Pai. – Interrompeu Leonard. – Eu não jogaria no Chudley nem se me pagassem mil galeões por dia.
E assim passaram um bom tempo em uma animada conversa sobre possíveis profissões para Avalon. Finalmente chegou a hora de partirem. Avalon iria com uma das vassouras dos Keedle, em troca de ajudar Leonard com os feitiços para a viagem. O ex lufano não era tão talentoso com feitiços.
Uma viagem tranqüila para a América os aguardava. Duraria pouco tempo. As vasouras eram velozes demais para preocupações com o tempo.

sábado, 25 de agosto de 2012

                                          Seis


Hogwarts



            Em seus sete anos na escola o jovem Hastur teve uma trajetória meteórica. Campeão da taça das Casas por três anos seguidos pela Corvinal, era o queridinho do Professor Flitwick, nem tanto pelas taças, mas pela sua prodigiosa habilidade com feitiços. A Diretora McGonagall dera ao garoto apertos firmes nos ombros, demonstrando certa aprovação. Ela era absolutamente severa, como sempre, mas não deixava de reconhecer talentos, principalmente em transfiguração. O garoto Hastur tinha uma habilidade com a varinha que era assombrosa. Mas não era gratuito, Avalon era extremamente dedicado, poucas vezes era visto com os outros brincando com os tentáculos da lula gigante às margens do lago negro. Defesa Contra As Artes Das Trevas era uma das matérias que Avalon não era excepcional, bem como O Trato Das Criaturas Mágicas onde uma vez foi picado por um Gira-Gira e teve de ser dopado na enfermaria.
            Talvez fosse o trauma que passara em um torneio na escola, quando uma ninfa o seduzira e quase o beijara, Avalon ganhou nesta época o seu apelido de Tritão e começara a ser pintado nas bandeiras da Corvinal com um tridente na mão ao invés de usar o bastão de batedor. Afinal, ele seria um meio tritão se o beijo tivesse acontecido.
            Batedor. O rapaz não tinha muita força, mas pegava os adversários desprevenidos com balaços que vinham zunindo em derrubaram muita gente. A Taça de Quadribol foi da Corvinal duas vezes sob o comando dele.
            No quinto ano ele aguardou durante todo o verão, mas não recebera o distintivo de monitor. No fim aceitou com alegria um de seus colegas de quarto ter sido promovido, afinal Avalon tinha um pendor para quebrar regras, recebera detenções por motivos variados, mas as principais eram quando ele saía a noite maquiado por um feitiço desilusório e ia se encontrar com Lady Laura Damon, uma Grifina mais velha que ele começou a sair em seu segundo ano. Filch continuava detestando a todos e o garoto costumava pregar peças em Madame Nora.
            Pirraça foi visto poucas vezes nos corredores depois que Avalon entrou para Hogwarts, o garoto criara algumas azarações contra fantasmas que faziam o poltergaist  temer mais ao garoto do que ao Barão Sangrento. “Hastur, o sr deveria se dedicar à minha aula, tem talento.” Costumava repreender o professor Prost. “Defesa Contra As Artes Das Trevas pode ser fascinante”.
            Sim, deveria mesmo ter sido fascinante, mas Avalon não deu continuidade à matéria para os NIEMs, o Prof. Prost não aceitou as notas de Avalon. Porém o rapaz deu continuidade a todas as outras matérias, mesmo sem ter se decidido que profissão seguir.
            O garoto não tinha nenhum inimigo no castelo, os outros alunos admiravam-no e ele era muito cortês ao aceitar qualquer desafio, mesmo que fosse perder. No sexto ano, como tinha os horários do Prof. Prost livres, ele fundou junto com Leon (Grifinória), Keedle (Lufa-Lufa) e uma garota, Masters (Sonserina), o Clube de Duelos. Todos eram bem vindos e havia prêmios contrabandeados de Hogsmeade para os vencedores, geralmente era Avalon, que usava feitiços que muitos nem imaginvam existir.
            O evento tornou-se oficial, pouco depois. O pai de Avalon enviara para ele uma luva especial para duelos. Era confeccionada em um couro azul de dragão. Deveria durar para sempre. No começo o rapaz se recusou a usar a luva, já que certa vez seu pai o enviara uma gravata que fazia nós sozinha e era impossível desfazer. Obrigando o menino, na época com doze anos, a andar com a formalidade de um primeiranista. Mas depois que seus amigos testaram a luva e nada de estranho aconteceu Avalon começou a usa-la em todos os duelos.
            Depois da saída de Lady Laura, Avalon passou a ser visto com outras garotas, mas poucas vezes. Ele ia a Hogsmeade sempre acompanhado por alguma garota, geralmente corvina, não pelo fato de serem as mais bonitas, mas por serem elas a acreditarem que tinham o direito de convidá-lo. Ele simplesmente aceitava, mas nunca se firmou com nenhuma delas. Houve uma garota, francesa, Grabrielle Duvalier, era bonita, mas eles nunca tiveram nada além de uma amizade quase de irmãos, ele a chamava de rapazinha, já que ela sempre andava com os garotos e era um tanto rude, apesar de ser linda.
            Avalon formou-se tendo EE em todas as matérias que prestou exames, uma coisa comum entre corvinos. E fez sua ultima viagem para a plataforma nove e meia. Onde finalmente a aventura da vida iria começar.

                                          Cinco


Plataforma Nove e Meia


            As semanas seguintes passaram-se lentamente com tardes longas em que Avalon tentava matar o tempo jogando partidas de Snap Explosivo contra um dos guardas, Ramirez, o único que ficava dentro da propriedade. O homem era jovem demais, ainda era inexperiente como agente, mas fora obrigado a se deslocar para esta equipe, como havia contado para Avalon. Ele não deixava o garoto ganhar, se ele ganhasse seria por mérito. Mas o menino não era de todo ruim, às vezes conseguia ficar com as sobrancelhas inteiras enquanto Ramirez, o guarda, ficava com a cara cheia de fuligem.
            Foi Ramirez quem o acompanhou para o embarque na plataforma nove e meia. A maria fumaça vermelha de Hogsmeade que levava os alunos para a escola no primeiro dia de setembro estava apinhada de crianças conversando com seus pais pela janela. Muitos embarcavam pela primeira vez e estavam ansiosos chorando e fazendo coro com os animais que estavam irritados com a barulheira. Coaxando, crocitando, miando.
            A grande lagarta vermelha partiu carregando expectativa, sonhos e ansiedade.

                                          Quatro


O Chefe do Departamento de Cooperação Internacional em Magia


            Dois anos depois, Avalon se preparava para ir à escola, seu pai estava na cozinha quando ele levantou de manhã, após uma noite inteira em claro imaginando quando a sua coruja finalmente chegaria.  Carta ainda não havia chegado e Avalon havia passado várias tardes olhando pelas janelas esperando sua coruja chegar. Começou a temer que a chuva de corujas do Brasil o impedisse de receber sua carta, imaginava que sua coruja fosse endereçada para o Brasil ao invés da Bretanha.
Hogwarts havia sido seu consolo desde que chegara a Blackpool. Seu pai, Jhon, não era muito presente e a casa vivia sendo vigiada de perto por agentes especiais contratados pelo Chefe do Departamento de Cooperação Internacional em Magia, que era, nas horas vagas, o pai de Avalon.
            O envelope pardo, de pergaminho, com o selo vermelho da escola estava sobre a mesa, ao lado de um bolo de frutas, esperando pelo garoto.
             – Eu não disse que a carta não demoraria? – Perguntou o homem por trás do jornal – Você é muito ansioso, meu filho. Era óbvio que sua carta chegaria. Você tem uma vaga desde antes de nascer.
            Avalon correu para a carta, com as mãos tremulas, quebrou o selo e abriu-a. Havia o comunicado de sua vaga e a lista de materiais. Era incrível a sensação que o menino sentia. Finalmente iria para a escola. Ele leu a carta três vezes, sem se sentar.
            – Ande com o seu café e vá se vestir. Iremos hoje mesmo comprar seu material.
            – Certo. – Respondeu o garoto empurrando alguns pedaços de bolo para dentro da boca. Subiu as escadas, dois degraus por vez e, rapidamente, se trocou.
            Além de ir ao Beco Diagonal, Avalon estava mais feliz pela companhia do pai, que se tornara cada dia mais rara desde sua chegada. E o Beco já não era novidade para o menino. Às vezes conseguia convencer um dos elfos domésticos a levá-lo até lá por Aparatação sem que os guardas notassem.
            Foi um passeio tranqüilo. Compraram tudo de que o garoto precisaria segundo a lista. Avalon ganhou, também, uma coruja. A plumagem era de um tom de palha bem claro, os olhos eram cinza, como os de Avalon e os de seu pai. No fim da tarde tomaram um sorvete na Florean & Fortescue enquanto conversavam sobre quadribol. O homem parecia interessado no que o filho dizia, e fazia alguns comentários sobre a história do jogo. Contou, inclusive, como surgira o zumbido que os torcedores do Wimbourne Wasps faziam e que Avalon repetia insistentemente.
            Em algumas semanas Avalon estaria em Hogwarts, mas por hoje, o dia com seu pai fora suficiente para lhe fazer sentir saudades, precocemente, de seu lar.