domingo, 30 de setembro de 2012

                                          Nove


Mar Marfim




Como Fortescue era o homem da inteligência do sr. Hastur, somente ele sabia o roteiro de Avalon. Agora, portanto, ninguém conhecia o destino ou paradeiro do trio. Estavam livres para conhecer o restante do mundo.
            Quando foram para o Egito, Gabe ajudou um grupo de bruxos a desfazer um feitiço que os impedia de lembrar o caminho que haviam feito dentro das pirâmides, eles simplesmente esqueciam tudo assim que saíam do local. Avalon apenas acompanhou superficialmente a complicada combinação de feitiços de defesa contra as arte das trevas que gabe usara com incrível concentração.
            - Estive pensando. – Disse Avalon enquanto eles sobrevoavam as savanas africanas. – Você poderia me ensinar alguns destes feitiços que o professor Prost ensinou, que tal?
            - Sim, e seu pai poderia te deixar ser auror na Espanha sem ter prestado NIEMS para isso. – Respondeu Gabe com sua voz grave, enchendo-se de animação. – Você tem notas para fazer o que quiser da vida, Tritão.

            Avalon não pensara muito no que Gabe Leon dissera durante semanas, e quando chegaram à China, dois meses depois, eles nem falavam sobre isso.
            O oriente era uma espécie de arena de duelos gigante. Eles eram anunciados nos lugares freqüentados exclusivamente por bruxos. Os garotos começaram a acompanhar os duelos pelo rádio. Nard e Gabe estavam ansiosos para ir a algum duelo e ficavam jogando indiretas para Avalon, que recusara a primeira vez.
            Quando o terceiro duelo foi anunciado, Avalon concordou que os três precisavam ir assistir ao vivo, ele queria muito ir, mas alguma coisa o estava bloqueando antes. Assim foi feito, quando a noite se aproximou Avalon saiu do quarto, trajava vestes bruxas, em tons de cinza e azul. O contraste com seus olhos era coincidência, mas ele refletia, agora para além dos olhos, o rompante de que uma tempestade estava se aproximando, que devastaria tudo assim que ele decidisse que era a hora certa.
            Os amigos estavam igualmente bem vestidos. Leon vestido em uma capa lilás havia comprado um cajado para guardar sua varinha, não era grande, mas passava uma impressão de superioridade, ou de idade mais avançada. Keedle usava vestes em risca de giz e uma cartola preta.
            - Avalon, onde está a luva?
            - Na mala.
            - Então vá buscá-la
            - Nard, não. Não faz sentido.
            - Como não? O circuito corre o mundo, um bruxo inglês pode muito bem participar. Você ainda não decidiu o que queria fazer da vida e os duelos são sua especialidade.
            - Sim. Imagine meu pai sabendo que estou para morrer na china?
            - Você não vai morrer. – Dessa vez que falou foi Gabe. – e não estou dizendo para você lutar, você só precisa levar a luva para o caso de decidir participar de um dos duelos secundários.  
            Avalon resistiu um pouco, mas por fim pegou a sua luva azul.
            Vários galeões a mais para a bruxa cheia de espinhas que ficava na bilheteria, alguns feitiços para confundir dois guardas distraídos e os garotos conseguiram se sentar na primeira fila diante da arena.
            Era uma gigantesca plataforma retangular construída em marfim. Havia em toda a sua superfície estrelas e meias-luas que serviam para marcação. Nas duas extremidades havia um círculo feito de um material negro.
            - Senhoras e senhores. – Anunciou uma voz magicamente ampliada, ele falava rápido e os garotos só conseguiam entender graças a um tradutor simultâneo intra-auricular que haviam comprado no Egito. Era um homem baixinho com o queixo fino e um bigode ralo – Bem vindos à Pré Temporada de Duelos. O primeiro duelo principal será entre o terceiro colocado do campeonato passado, o incrível Chang!
            A platéia interrompeu o apresentador, urrando, e Avalon sentiu a adrenalina subir, gritou junto aos outros. Chang subiu até o centro da plataforma, trajava um robe oriental vermelho, fechado com lacres dourados.
            - E temos, também, um novato. – Todos fizeram silêncio. – Dêem as boas vindas à Yu Yuk.
            Por um instante Avalon acreditou que havia sido inscrito pelos seus amigos, se fosse o caso, além de não lutar ele iria aprontar com os dois. Mas esqueceu logo isso, gritando as boas vindas para Yuk. Yuk subiu na plataforma trajando um robe igual ao de Chang, porém, bege. Era a única diferença entre eles.
            Os padrinhos foram anunciados e tomaram posição nos círculos negros. Os dois duelistas se cumprimentaram e tomaram posição. O juiz autorizou o início do duelo.
            A platéia prendeu a respiração. Foi Yuk quem atacou primeiro. Em uma espécie de dança ele pareceu fazer o mesmo movimento da varinha e o chão começou a mudar. Colunas de pedra subiram em direção a Chang. Chang parou as colunas sem dificuldade e em um golpe violento deu uma estocada com a varinha, puxando a varinha por um lado e a mão livre por outro lado do rosto cuspiu uma serpente em chamas que seguiu rapidamente na direção de Yuk. Sendo atacado Yuk reagiu rapidamente fazendo a serpente mudar o caminho e se voltar contra seu criador, Chang lançou a serpente na direção da platéia e, finalmente, Avalon percebeu que havia feitiços protegendo o público.
            Os duelistas mesclavam artes marciais com feitiços. O tempo inteiro podia-se ouvir estrondos, estalos e estampidos de feitiços sendo disparados violentamente, eles estavam suados pelo esforço que faziam nas tentativas de derrubar o oponente.
            Chang fez um movimento para o alto com sai varinha, era impossível prever o que ele faria, os duelistas eram muito bons com feitiços não verbais. Yuk seguiu sua mão com o olhar apreensivo e essa distração foi sua maior falha no duelo. O feitiço não veio de cima. A arena ao redor dele virou um mar branco que prendeu as pernas de Yuk antes que ele pudesse reagir, o marfim, controlado por Chang, arrastou Yuk violentamente para fora da arena.
            - Sim! – Disse o apresentador – Chang é o vencedor da luta principal.
            A platéia irrompeu em vivas, havia música em algum lugar, chapéus e cartolas voando, a luta havia terminado e os três amigos não se continham em meio à adrenalina que emanava da arena.

sábado, 1 de setembro de 2012

                                          Oito



Califórnia




Os bruxos na Califórnia eram menos tradicionais, o que obrigara Avalon e Leonard a trocarem quase todas as roupas que haviam trazido. Gabe Leon adaptara-se facilmente ao estilo de vida dos nativos da América. Pretendia fazer algum tipo de intercambio no ministério local durante seu treinamento para auror.
- Vocês vão ficar em casa, mesmo? – Avalon perguntou impaciente enquanto vestia uma camisa de uma banda trouxa que aprendera a gostar durante as semanas que passara na América.
- Sem chance, Tritão. – Respondeu Leonard, que estava ocupado escrevendo uma carta para casa. – Estou exausto. Nunca imaginei que uísque de fogo pudesse ser tão traumático.
- Eu também passo. Vá você. – Gritou Gabe, da cozinha.
- Vocês não agüentam nada. Vou mesmo.
E foi. O garoto estava gostando da liberdade de poder ir para onde quisesse. Aproveitaria ao máximo. Esta noite parou em um pub próximo a praia em Santa Bárbara. O lugar era freqüentado por trouxas e bruxos. Atraídos pelo Punk Rock. A música era um tipo de magia que não dependia do talento com a varinha e Avalon apreciava esta habilidade, independente se fosse vinda de um bruxo ou não.
Avalon provou diversas bebidas servidas no local. Dizia a si mesmo que estava viajando para experimentar as coisas da vida. Assim fingia que estava tudo certo. Não se aproximara de nenhuma garota esta noite. Não estava afim. Mas bebeu demais. Já era madrugada alta quando ele saiu do local.
A rua estava deserta quando ele colocou os pés para fora. Ainda estava anestesiado pelo álcool correndo em seu corpo. Não estava com frio, os lábios estavam dormentes e a visão um pouco turva. Tentou vestir a jaqueta, primeiro um braço, com dificuldade, passou pela manga. O braço seguinte resistia bravamente aos esforços do rapaz.
Ao longe um outro rapaz se aproximava, não era possível identifica-lo. Apenas uma camiseta branca. Avalon não deu atenção ao homem que se aproximava. Ele parecia emanar certa aura, como se uma luz tremeluzente o rodeasse.
Quando o homem se aproximou, Avalon cambaleou um pouco e tentou disfarçar sua briga com a jaqueta. O homem notou e foi segurar a manga para Avalon colocar o braço. O rapaz tinha feições orientais, exceto pelo queixo rígido.
- Ah, obrigado.
- Não por isso. – O homem divertia-se com o estado de Avalon. – Os bares por aqui te enfiam bebidas enquanto você puder pagar por elas. Mesmo que depois você não consiga vestir uma jaqueta.
- Verdade, mas vou ficar bem. Obrigado.
- Precisa de ajuda para chegar em casa?
- Não, deixe que eu me viro daqui. Até.
- Certo, tome cuidado. Adeus.
O homem foi-se embora e Avalon tentou encontrar o caminho de casa. A medida que caminhava sua face começava a se sensibilizar com o frio, era um pouco de sobriedade chegando. Chegou junto à sensação de que estava sendo seguido. Olhava para trás em intervalos regulares. Não via ninguém. Não ouvia passos.
- Homenum Revelio! – Disse sacando a varinha em um movimento muito rápido. Mesmo pra um bêbado.
Imediatamente um homem apareceu na sombra e por uma fração de segundo se assustou com a descoberta de Avalon. Ele desaparataria em seguida, mas Avalon foi mais rápido que seu reflexo.
- Não vai, não. – e com um movimento breve da varinha imobilizou o estranho.
Avalon aproximou-se lentamente do homem tentando reconhece-lo. – Quem é você?
- Fortescue. – O homem disse ofegante. - Sou agente do seu pai.
- Meu pai? Ele ainda manda vocês me seguirem? – Avalon sentiu-se como uma criança.
- Sim, senhor. – Respondeu o agente sem tentar se livrar do feitiço que o prendia - Ele disse que as ordens não mudaram só por você ter atingido a maioridade.
- Vamos resolver isso agora mesmo. – Avalon disse segurando o braço do homem. – Você vem comigo.
Um estalo acompanhou uma breve distorção do ar e os dois desaparataram.
O hotel não ouviria o estalo, os rapazes haviam providenciado para este tipo de eventualidade. Os dois aparataram na sala. Rapidamente os amigos de Tritão chegaram no ambiente. Avalon explicou rapidamente o que ocorrera.
- E agora, vamos ter uma conversa com meu amado pai.
Avalon jogou o pó de flú na lareira improvisada e meteu a cabeça nas chamas verdes. Do outro lado seu pai encontrava-se pensativo em sua mesa no Ministério da Magia Espanhol. Os amigos não puderam ouvir a discussão que durou muito tempo.
Quando finalmente saiu da lareira, Avalon tentava transmitir uma calmaria que não existia.
- Fortescue, você vai voltar para a Espanha, imediatamente. E não quero ninguém me seguindo mais. – Avalon disse para o bruxo que estava imobilizado no sofá. Avalon sacou a varinha e alterou a memória do guarda. – Ele não vai mais se lembrar do nosso roteiro e poderemos seguir viagem pela manhã.
Assim foi feito. Na manhã seguinte todas as malas estavam prontas e os garotos partiram. Iriam para o México, que era o país mais próximo, onde estudariam as famosas caveiras. Avalon estava frustrado, não conseguia entender como o pai poderia insistir em mandar-lhe guardas, mesmo quando sabia que o garoto não precisava mais. Aliás, enquanto atravessavam a fronteira, voando, o rapaz se questionou se algum dia realmente precisara de capangas.