Tempestades
Após
a primeira luta havia um intervalo de vinte minutos para que as pessoas
comprassem lembranças, tirassem fotografias com os duelistas, comidas bruxas da
China. Enquanto caminhavam pelo hall os garotos comentavam fervorosamente a
batalha recém encerrada.
A
segunda rodada de duelos era entre um novato e um amador. Mas os garotos ainda
não sabiam quem seria o amador que subiria à arena. Quando as pessoas começaram
a se encaminhar para seus lugares a arena já havia voltado ao normal e o homem
que irradiava a partida estava aguardando sorridente com os braços seguros às
costas.
-
Todos acomodados? – Perguntou o homem com a voz magicamente ampliada. – Pois já
iremos começar a segunda rodada de duelos da noite.
Enquanto
o apresentador dava informações sobre o duelo, dois homens caminhavam
conferindo bilhetes. Estavam, visivelmente, atrasados para o evento. Conferiram
duas vezes antes de avisar que Avalon e Leon estavam em seus lugares. Os dois
levantaram-se para conversar. Certamente usariam a lábia para confundir os
dois.
-
Vamos à bilheteria, resolveremos isto lá fora. – Sugeriu Avalon indicando com a
mão o caminho.
Os
homens saíram na frente.
-
Já voltamos. – Leon avisou dando uma piscada marota para Leonard. Na pressa de
sair ele nem notou que o amigo estava segurando o riso.
-
Temos voluntários! – Gritou a voz que estivera passando informações sobre o
duelo. – Aqueles dois rapazes em pé.
E
a luz forte de uma varinha incidiu sobre Avalon e Leon. Ambos se olharam
assustados. Não haviam se inscrito em nada. Viraram ao mesmo tempo para Leonard, que
ria, agora sem disfarçar.
-
É assim que os amadores são escolhidos aqui. Os voluntários se levantam quando
o bigodinho pergunta quem deseja duelar. Vocês se distraíram na confusão dos
lugares e nem ouviram.
Avalon
sentiu o corpo esfriar, ele iria apagar a qualquer momento. Quando olhou para
Leon o amigo estava assustado, pálido. Mas ao menos ele sabia que seria o
padrinho. Leon, se Avalon tivesse sorte, não precisaria nem sacar a varinha.
Os
dois desceram até a entrada da arena. Avalon sentia que suas pernas iriam o
trair a qualquer momento, que elas vacilariam e se recusariam a mantê-lo em pé. Entraram na
arena. Era estranhamente fria e silenciosa, não podiam ouvir o que acontecia do
lado de fora. Foram então, com passos vacilantes, até o homem que os chamara.
- Certo, garotos. Vocês falam mandarim? – Ele perguntou
com a voz normal, o feitiço havia sido desfeito. Os rapazes balançaram a
cabeça. – Ótimo, de onde vocês são? Quais os nomes? Quem luta e quem é o
padrinho?
-
Senhoras e senhores. Os amadores da noite são: diretamente da Inglaterra o
padrinho Gabe Leon e o Duelista Avalon Hastur, o Tritão.
Os
garotos puderam ver o público gritas e aplaudir sem som algum.
-
E o novato no circuito chinês, dêem as boas vindas à Li Kong!
Kong
entrou na arena trajando vestes azuis, muito parecidas com as dos duelistas do
duelo anterior, era jovem, porém visivelmente mais velho que Avalon.
Os
dois se cumprimentaram e tomaram distância, os padrinhos tomaram posição nos círculos
negros. O primeiro duelo importante da vida de Avalon estava para começar e ele
nem havia se preparado com um arsenal de feitiços.
Avalon
tomou a iniciativa, foi quem moveu a varinha primeiro. Nada aconteceu, Kong
ficou olhando em volta aguardando alguma coisa sobrenatural, mas a princípio
parecia que o jovem bruxo inglês não havia feito nada. Porém, um zumbido encheu
a câmara, o ruído foi aumentando enquanto as pessoas lá fora gritavam. Avalon
continuava não ouvindo nada, mas o som do público iria incomodar Kong até que
fosse desfeito.
Kong
avançou para cima de Avalon, no meio do caminho ele saltou, certamente com auxílio
de magia e lá do alto uma bola de fogo veio como um míssil para a arena.
Avalon
girou o corpo com a mão da varinha esticada e no fim do giro apontou para a
bola que descia. A bola converteu-se em uma chuva de pétalas e Kong voltou ao
chão mas desconcentrava-se com o som, perdeu o equilíbrio por este motivo.
- Rictusempra! – Avalon
gritou, fez questão de usar um feitiço verbal. O soco atingiu a barriga de Kong
enquanto ele tentava se equilibrar e o arremessou para fora da arena.
Acabou.
Avalon ganhara o duelo, Leon veio correndo em sua direção e deu-lhe um abraço. O
juiz ergueu o braço da dupla campeã. O que o Tritão fez para ganhar? Ele só
contou mais tarde para seus amigos:
-
Ele era novato, precisava se provar para o público. Na arena, com a adrenalina
correndo na veia é difícil distinguir urros, palmas e vaias. Eu senti a mesma
coisa quando fui escolhido. O público finalizou com o rapaz, eu não fiz,
praticamente, nada.
A
noite pareceu passar lentamente, enquanto Avalon imaginava a possibilidade de
se tornar um profissional em duelos, o sono demorou muito para chegar, mas a
tempestade de pensamentos nublou os olhos de Avalon e ele dormiu pesadamente
pouco antes do dia clarear.